Tem sido comum certos conceitos saírem da escuridão e ganharem as luzes da celebridade. São reverenciados como se fossem inéditos. Alguns são, outros não. A autoria é poderosa. Ser um pouco criador e não somente criatura nos aproxima dos deuses. A criação imortaliza o homem. “Criar é matar a morte”, diz Roland Romain. O ego agradece.
Um dos conceitos da vez chama-se propósito, que vem substituindo o que antes chamávamos de missão. Outro é experiência. O pessoal da administração adora o primeiro, o do marketing o segundo. Ambos são muito aplicados no meio empresarial, no mundo dos negócios, mas vão além, se estendendo à vida privada.
Não vamos mais ao parque pela diversão, mas pela experiência. Quem não vive a experiência, quem não experimenta, está desperdiçando as oportunidades que a vida lhe oferece para ser uma pessoa feliz. Tanto o propósito como a experiência visam a felicidade.
O velho Carpe Diem (aproveite o dia) também está em alta. Palestrantes, profissionais do coaching e mentores dão dicas para a conquista do bem supremo: a felicidade, obsessão de quase todos. Não vejo mal nisso. O problema é quando se torna motivo de culpa e até depressão, para aqueles que não tem propósito ou estão muito distante de alcançá-lo.
Na sociedade da eficiência, a felicidade é uma espécie de termômetro da competência. Está feliz? É competente. Não está feliz? É incompetente. Uso o verbo estar por entender que ninguém é feliz totalmente e para sempre. A felicidade, entendida também como sucesso, é transitória, está mais para um momento de alegria, do que um estado de plenitude eterna e absoluta.
Por isso, se está feliz e não se é feliz. Prefiro alegria. Alegria que se reveza com a tristeza, numa espécie de dança. “Tristeza não tem fim, felicidade sim”, cantam Vinícius e Jobim. E o propósito? Bem, ele é o lugar onde se pretende chegar, portanto, é o lugar da alegria (da felicidade para os que acreditam nela).
E chegar implica na construção de uma travessia, de um caminho, que não é obra de um único artista, nem de um empresário visionário. Chegamos ao mundo pelas mãos de outro. Seja na empresa ou na vida pessoal, este caminho não é percorrido sozinho. Por mais que sejamos competentes e livres, requer companhia (o mesmo que colaboração, parceria).
O êxito da construção depende de uma soma de habilidades e do comprometimento dos outros. No caso da empresa, colegas, fornecedores, clientes. Caso contrário, não se chega ao lugar desejado.
Há quem tem a ideia, quem faz a ideia se tornar uma realidade e quem compra, na medida em que, ao comprar, valida a ideia e reconhece a criação. Claro, o lucro é um item indispensável para a sobrevivência de um negócio. Assim como o salário é para o funcionário.
Agora, quando somos conscientes da importância que temos para a realização de um propósito, não tem dinheiro que pague. Num país desigual como o Brasil, quanto mais inclusivo for o propósito, mais alegria gera. Por isso é fundamental que empresas brasileiras, independentemente do tamanho, tenham claro qual é o seu verdadeiro propósito, até onde ele abarca o outro.
Na hora de defini-lo recomenda-se deixar o dinheiro de lado. Um exercício é se imaginar com a vida ganha financeiramente e, nesta realidade virtual, se perguntar: qual é o propósito? É um exercício de humanidade num mundo artificializado.
Na Scopi o nosso propósito é: “Ajudar as pessoas a pensarem e agirem estrategicamente”. O propósito dá sentido ao negócio. Tem a dimensão de uma causa. Ajuda clientes a resolverem problemas, a serem melhores, a satisfazerem seus propósitos.
Não é só uma teoria, nem uma jogada de marketing. É uma prática diária que faz a rotina cansativa do trabalho ser recompensada. Algo que naquele dia que deu tudo errado – o cliente cancelou o contrato, um dos melhores funcionários pediu demissão, o fornecedor não cumpriu o prazo – me conforta pensar: apesar dos pesares, eu tenho um propósito.
Um grande abraço a todos!